Ambivalência... já ouviu falar?

PROFª. JULIA DAMASCENO DE CASTRO|02 de Julho de 2021

Uma grande parte dos pacientes que chegam até nós estão há algum tempo sofrendo com alguma queixa e buscam a nossa ajuda porque estão com dificuldade de manejar sozinhos! Já está claro que o manejo de muitas condições clínicas envolve estratégias ATIVAS de reabilitação e mudança de comportamentos que estão sendo disfuncionais (ex. sedentarismo, medo de movimento...). O que isso quer dizer? O paciente vai ser a figura principal, nós seremos os guias do processo e a parceria vai ser a palavra chave dessa jornada! Faz muito sentido,né? O indivíduo como peça principal da recuperação, estranho seria se fosse diferente!

 Dentro desse cenário esbarramos com algo inerente a todo ser humano: A ambivalência. A ambivalência é quando queremos e ao mesmo tempo não queremos nos comprometer a mudar determinado comportamento. Pode parece esquisito se olharmos pra isso de forma superficial “claro que queremos o melhor pra nós”, mas não é nada simples. Mudar comportamento implica em abrir mão de coisas que são, de alguma forma, positiva pra nós também.

 Pensem comigo nesse exemplo simples: “O que de bom a prática regular de exercício trás pra mim?”  -Saúde, melhora do humor, controle da dor, melhora da atenção no trabalho, controle de peso corporal, etc etc etc.

 Agora vamos lá, continuem comigo “O que de bom o sedentarismo trás pra mim?” – Terminar as tarefas propostas do dia, ficar mais tempo em casa com a família, descansar até mais tarde no meu edredom quentinho depois de uma noite de sono merecida após um dia tão intenso de trabalho porque EU MEREÇO.....

Vamos combinar que existe algo de bom tanto de um lado, como de outro! Aí está a ambivalência e todos nós lidamos com ambivalências em vários momentos da nossa vida e do nosso dia! A chave para mudança de comportamento é olhar pra essa ambivalência com uma balança em mente, estamos pendendo ou deveríamos pender mais para qual lado? Você tem essa resposta? CUIDADO, não!

O que cabe a nós é evocar a motivação para mudança dos que chegam até nós pedindo ajuda, lembrando que se fosse simples eles já teriam feito sem nos procurar! Quais as razões essa pessoa tem pra mudar? Essa resposta normalmente está atrelada a VALORES (estar saudável para família, um retorno ao esporte prazeroso, pegar um neto no colo...). O que buscamos na nossa conversa é o fortalecimento da sua própria motivação e comprometimento com a mudança!

Lembrem-se que isso deve ser de forma colaborativa, evocativa e com respeito pela autonomia do paciente. Treinem todos os dias para ouvir mais e falar menos, uma escuta qualificada vai ainda além da construção de vínculo, ela nos permite tirar o olho do “defeito” e direcionar para onde queremos chegar, o que queremos resgatar e com quem queremos estar!

PROFª. JULIA DAMASCENO DE CASTRO

Fisioterapeuta pela PUC de Campinas. Mestre e doutoranda em ciências da reabilitação pelo Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM). Sócia, responsável técnica e fisioterapeuta na clínica Tearis fisioterapia em Campinas.