Clínica versus Ciência: Já foi o tempo dessa briga!

PROFº YURI FRANCO|19 de Março de 2021

Bem amigos do Blog Fisio em Ortopedia, hoje teremos o grande embate da temporada! De um lado o cientista, com suas inúmeras publicações e grandes prêmios! Do lado oposto o clínico, com sua agenda cheia durante a semana e aos finais de semana vai para mais um curso de formação. Quem sairá vencedor dessa grande batalha?

Pois é caros leitores, chegamos em 2021 com a prática baseada em evidências gritando por espaço, principalmente devido a pandemia que estamos vivendo, e o paradigma da ciência versus clínica ainda insiste em aparecer. E parece que essa polarização do mundo também invadiu o ambiente da saúde, ou você é TEAM SCIENCE ou TEAM CLINICIANS.

Vamos aos fatos... Esse questionamento não é de hoje, temos evidência que data de 1981, onde Barlow já se questionava sobre a lacuna entre ciência e clínica. Hoje, com o a facilidade de acesso à internet e às redes sociais, é evidente que essa polarização ainda existe. Porém, um “novo” perfil de profissionais vem crescendo, ainda mais com a expansão e facilidades em estar envolvido em um programa de pós-graduação Stricto Sensu. Esses profissionais são os considerados pesquisadores-clínicos. Com uma visão voltada a trazer os questionamentos visto no cotidiano clínico, eles começam a mostrar a sua importância nos sistemas de saúde (público ou privado), por ter em seu arsenal não apenas a evidência pura, mas uma ligação clara e direta das dúvidas clínicas com respostas e intervenções cada vez mais pragmáticas. E esse pessoal vem tomando conta do cenário de liderança no meio esportivo, principalmente no exterior.

Esse cenário nos leva a um questionamento: o que faz os clínicos não participarem de maneira mais efetiva desse processo, tendo em vista que parece ser muito mais fácil o aprendizado em metodologias e modelos de estudo do que ensinar um pesquisador a tratar? Uma das principais barreiras está no tempo desprendido para a ciência e com isso a repercussão financeira, sabendo que os valores pagos em financiamentos não são satisfatórios no Brasil, e muitas vezes necessita de uma dedicação exclusiva de tempo para isso. Seria uma ideia abrir mais esses critérios de tempo integral para facilitar ainda mais a inserção dessa população na ciência? Aumentar os valores pagos a pesquisadores poderia ser, também, uma das opções, porém em todo ambiente de crise e falta de incentivo para área, talvez seja um pouco mais delicado esse ponto. Enfim, não é de se repudiar totalmente esse afastamento.

Outro ponto de extrema importância nessa relação é uma reflexão para os pesquisadores: será que as informações contidas em minhas publicações são de fácil entendimento e aplicabilidade clínica? A divulgação de informações científicas para o público leigo e exclusivamente clínico, ainda é muito deficiente. Dados recentes mostram que a maioria dos clínicos sem especialização Strictu Sensu mudam suas condutas com base em cursos de curta duração ou em conversas informais com seus pares, e não baseado em artigos científicos. Ou seja, o que essas pessoas que dão cursos têm de diferente do cientista? Talvez, uma abordagem mais clara? Uma vontade maior de informar e “vender” seu produto para esses profissionais? Um maior apelo clínico? a forma mais direcionada ao ponto que se queira mudar.

Talvez, o ponto principal dessa discussão é entender que ambos têm seu papel de importância e que não deve existir essa disputa tão grande entre ciência e clínica. O papel do clínico é perceber que não precisa se transformar em um pesquisador e sim, ser um clínico científico baseado nas melhores evidências disponíveis porque isso vai levar a melhores resultados com seus pacientes e aumentar seu valor perante a sociedade. Porém, para que isso aconteça, os pesquisadores devem melhorar a comunicação científica, deixando seus resultados ainda mais palpáveis e evidentes para a população.