PROFº YURI RAFAEL DOS SANTOS FRANCO|13 de Julho de 2022
Fala galera do Blog do FisioemOrtopedia, espero que todos estejam bem! Focados em trazer algumas reflexões pautados em nossos podcasts, hoje, com o episódio 107 (https://open.spotify.com/episode/54YL0B1qDoTTsGrUuWwFbh?si=a434bb17528340eb), onde nossos hosts receberam o Dr. Guilherme Paiva, um dos nossos professores da pós-graduação e da plataforma Star.
Quem aqui já tratou ou trata seus pacientes com aquela dor lombar, pedindo para ele contrair mais o abdômen, prende o xixi e afins levanta a mão! Todo um processo de avaliação e tentativa de entender os tempos de contração da musculatura mais profunda dessa “caixa mágica” estabilizadora que começou a ser estudado há alguns anos. Porém, atualmente, parece que esse tipo de intervenção tem perdido sua exclusividade. Vamos de reflexões sobre esse tema então:
Para deixar claro, acho que cabe uma explanação no contexto histórico dessa técnica que teve sua base científica pautada em estudos de casos controles, que já entendemos que não é o melhor delineamento de estudo para saber eficácia de técnicas. Pois bem, nesses estudos foram avaliados pacientes com dor lombar e visto que exista um atraso nos tempos de ativação da musculatura profunda ao se fazer exercícios em articulações mais distais. Com isso, inúmeras inferências de causalidade começaram a ser feitas e assim um boom nos tratamentos baseados em tentar normalizar esses “deficts”.
Porém, em meados de 2010 foi mostrado que esse atraso não acontecia de fato, mas sim uma mudança no pico de contração e com isso, começaram a aparecer estudos com maior qualidade e mostrando que a estabilização segmentar não superior a outras técnicas de exercícios. E cabe a reflexão que foi muito bem levantada pelo Gui, nossos pacientes não buscam a gente para normalizar os tempos de ativação, mas sim para melhorar seus sintomas físicos.
Com isso, nos cabe ligar uma alerta muito interessante que é, será que devemos estar com nossas terapias atreladas a questões cinéticopatológicas, apenas? Porque mesmo acreditando que o movimento deve ser sempre o foco, algumas vezes ainda escapa aquela fala: você está instável, temos que melhorar essa estabilidade! E com isso, gera maior crença no paciente e ai entra em todo o processo de evitação e medo, a ponto de termos pacientes-robôs que para fazer uma atividade simples precisa de todo um aparato de contrações e evitações, pelo simples fato dele estar “instável”.
Sendo assim, a busca de causa-efeito precisa ser totalmente refutada atualmente. Entendemos que muito mais que ajudar, essa sede de estabilizar traz seus efeitos negativos, se podemos falar que são realmente ruins pois gera para nós uma piora do quadro de hipervigilância constante em nossos pacientes e até mesmo as evitações, pois para ele estar bem ele precisa estar completamente ativado e isso não é verdade. Até porque o que se sabe é que esses pacientes com dor persistente, normalmente, já têm seus movimentos mais restritos.
Sendo assim, precisamos ter em mente que o nosso papel está em fazer com que o nosso paciente entenda que movimento é algo comportamental e não somente uma estrutura guiada por músculos e articulações que precisam estar totalmente alinhados e sincronizados. Precisamos expor eles a novas experiências e mostrar que existem a possibilidade de fazer os movimentos tornando-o mais livre com menos medo.
Com isso, o CORE única e exclusivamente não é a melhor ferramenta para utilizarmos. O nosso foco deve estar em somente expor e controlar as exposições, e não me entenda mal, não é largar seu paciente para fazer o que ele quiser e sim deixar o caminho mais simples e mais específico para que ele encontre a melhor forma dele fazer o movimento!
PROFº YURI RAFAEL DOS SANTOS FRANCO
Fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia Musculoesquelética pela Santa Casa de São Paulo, mestre e doutor em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo.