Dor crônica: a série

PROFº YURI RAFAEL DOS SANTOS FRANCO|16 de Junho de 2021

Você tem alguma dor crônica ou você é responsável por tratar pacientes com dor crônica? Eu entendo perfeitamente quão complexo é manejar essa condição clínica, existem uma diversidade de tratamentos no mercado, várias tentativas de modificar o estímulo e parece que nada melhora... Foi pensando nisso que a Revista The Lancet, lançou agora em Junho uma série sobre essa temática. Vamos falar sobre ela?

Hoje, quarta-feira da ciência aqui no Blog do FisioemOrtopedia, vamos falar sobre essa série que foi lançada agora no mês de junho. São quatro artigos, sendo um deles um editorial escrito pelos editores do periódico. E é sobre ele que vamos falar hoje aqui em nosso blog.

O título já é provocativo, que ele traz a reflexão de repensarmos a dor crônica. A dualidade constante em que vivemos sobre o que seria um mundo ideal sem dor para essas pessoas torna a trajetória ainda mais difícil. No decorrer do texto os autores lançam a seguinte proposta, por que que a gente não para de tentar livrar nosso paciente da dor totalmente e começa a focar em estratégias para melhorar a funcionalidade e a qualidade de vida dos nossos pacientes com dor crônica? Essa busca pela resolução completa do quadro faz com que a conduta baseada em remédios, principalmente em opioides, ou até mesmo em técnicas muito inovadoras que não tem comprovação seja o alvo de muitos clínicos.

Temos na mão uma ferramenta que talvez seja a fundamental para esses pacientes, ainda mais no começo que vai gerar uma aderência ainda maior as nossas condutas, que é a aliança terapêutica. Muito pouco é visto sobre a forma de como podemos melhorar esse desfecho, sempre focados em achar alguma coisa que resolva a nossa dor completamente. No texto ele faz a ressalva sobre as dores nociplásticas, uma nova classificação e que mostra que mesmo sem ter um componente lesivo o sistema nervoso central interpreta estímulos de maneira que o resultado é a dor.

A dor crônica é uma condição que gera muito gasto ao sistema, seja pelos tratamentos como também pelos anos vividos com incapacidade. Sendo assim, o foco deve ser em um tratamento multimodal com presença de uma equipe mais completa, com fisioterapia, psiciologia e afins, e o foco do tratamento deve ser o seu bem-estar e não somente o alívio completo da dor, incluindo nesses termos a educação sobre a condição vivida por ele é essencial, principalmente quando estamos falando em quebrar crenças já estabelecidas na sociedade que muitas delas estão ultrapassadas. Isso tudo, para que a dor crônica não fique a margem da sociedade, como uma coisa que não tem um tratamento ou que seu tratamento é dependente dos temidos opioides.

PROFº YURI RAFAEL DOS SANTOS FRANCO

Fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia Musculoesquelética pela Santa Casa de São Paulo, mestre e doutor em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo.