PROFº YURI RAFAEL DOS SANTOS FRANCO|20 de Junho de 2022
Um dia na clínica de fisioterapia:
- Doutor, o médico disse que eu tenho tendinite, o que eu posso fazer?
- Ah! Muito simples, faz exercício excêntrico que melhora!
Certeza que já ouviram ou viveram esse cenário algum dia na clínica. O primeiro ponto está voltado, para o termo que hoje já sabemos que o processo inflamatório não é o mais correto para ser empregado nesse contexto. O problema está muito mais “complexo” do que se pensa e não apenas em uma simples inflamação. Hoje entendemos que o próprio sistema, quando estressado de maneira exagerada tem a capacidade de liberar substâncias que se tornam ou se mostram agressivas e com isso gera uma resposta de dor e, novamente, não somente um perfil inflamatório que é capaz de gerar esse tipo de problema.
E aí vem a segunda parte do nosso diálogo que nada mais é do que como surgiu essa preferência tão fissurada pelos exercícios excêntricos para tratar as tendinopatias, mais específica, as de membros inferiores. Imagina o seguinte cenário: Um jovem médico sueco, corredor, começa a sentir fortes dores na região do calcanhar durante e após suas práticas de corrida e isso começa a prejudicar seu desempenho. Ele um jovem empolgado com a medicina, fala para um dos seus chefes: -Estou pronto! Pode me operar. Seu chefe, com uma sensatez fora do esperado fala: - Calma, jovem! Opero você somente quando você romper esse seu tendão. Esse jovem, agora duplamente frustrado, volta para casa com uma ideia fixa em sua cabeça: ROMPER O TENDÃO! Pensou em instantes em algo que poderia ser extremamente lesivo e chegou na conclusão que colocar seu tendão em estresse tensil e incrementando cargas de maneira progressiva, seria a melhor forma disso acontecer. Porém, algo estranho começa a acontecer... ele vai melhorando! Essa história parece boba, mas foi assim que o protocolo de Alfredson foi desenvolvido, pelo médico sueco Hakan Alfredson, que passou na pelo por essa experiência. Chegou a 3 séries de 15 repetições, duas vezes ao dia, durante 12 semanas. A questão é, será que isso gera aderência? Imagina, exercício todos os dias, duas vezes no dia!
Sendo assim, parece que o destaque exclusivo para os exercícios excêntricos vem perdendo espaço. Ainda mais se formos a fundo dentro desses estudos que as populações são muito pequenas e os efeitos podem ter influência desse confundidor. Associado a isso, temos que outras formas de abordagens baseadas em quesitos de evolução progressiva de cargas (isométricas, isotônicas e exercêntrico) tem um efeito de melhora maior do que somente o excêntrico, tanto para questões clínicas como para questões teciduais.
Além disso, existem outros fatores que devem ser abandonados quando falamos de tratar tendinopatias. O primeiro e talvez o principal seja achar que tendinopatias é somente excêntrico, como diz o senso comum. O segundo é avaliar somente de forma superficial, e ficar olhando somente para a doença dele, sem ao menos levar em consideração outros aspectos que hoje sabemos que influi diretamente no contexto clínico do paciente. Outro tópico é achar que tendinopatia é igual em qualquer situação, isso não é verdade, pois tendões sofrem com cargas e mecanismos diferentes. Abandonem as terapias passivas, talvez esse seja um dos principais erros na tentativa de cuidar somente dos sintomas. Exames de imagem não é direcionador para mudança ou escolha de conduta. E carga precisa ser progressiva, lembrar que o tecido do tendão tem que receber estímulos de diversas formas chegando até a pliometria que é algo necessário. E repouso prolongado, pode gerar alterações na matriz do tendão.
Então, como fechamento, o excêntrico não precisa ser totalmente deixado de lado. Ele precisa ser entendido e colocado no momento e da maneira correta!
Fala galera do Blog do FisioemOrtopedia, espero que todos estejam bem! Estamos de volta com os nossos textos. Focados em trazer algumas reflexões pautados em nossos podcasts. Hoje, com episódio 79, onde nossos hosts receberam o Dr. Rodrigo Scatonne, pesquisador brasileiro que está, atualmente, em Delaware fazendo seu post-doc.
Link dessa episódio:
https://open.spotify.com/episode/4vvnbM5kZJgjF5tZuQLwFL?si=368337a83eed4915
PROFº YURI RAFAEL DOS SANTOS FRANCO
Fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia Musculoesquelética pela Santa Casa de São Paulo, mestre e doutor em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo.