FIBROMIALGIA - PARTE 2

PROFª. KATHERINNE FERRO MOURA FRANCO|28 de Novembro de 2021

Dando sequência na nossa temática de fibromialgia, após os conceitos básicos trazidos no texto anterior, hoje a Profa. Katherinne Ferro, mostra valores importantes de entendermos sobre essa condição clínica tão complexa e que vem se mostrando muito comum no contexto clínico. Vamos nessa imersão, então!

Epidemiologia

A fibromialgia é um tipo de dor crônica que ocorre em todos os continentes do mundo, e é considerada uma das quatro disfunções reumatológicas mais frequentes na população mundial. É difícil definir verdadeiramente a incidência da fibromialgia, devido ao atraso nos diagnósticos de novos casos de fibromialgia. Atualmente, a incidência da fibromialgia é estimada em 6,88 casos por 1.000 pessoas por ano para homens e 11,28 casos por 1.000 pessoas por ano para mulheres. Um estudo recente observou uma incidência de fibromialgia concomitante de 6,77 casos por 100 pessoas por ano durante os primeiros 12 meses após o diagnóstico de artrite inflamatória, e essa incidência diminui para 3,58 casos por 100 pessoas por ano de 12 a 24 meses após o diagnóstico de artrite.

A prevalência média global da fibromialgia é de 2,7%. Porém, essa prevalência é dependente dos critérios diagnósticos usados, e varia entre 2% a 4% na maioria dos estudos. No Brasil, a fibromialgia é a segunda disfunção reumatológica mais relatada, com prevalência de 4,4% na população com idade entre 35 e 60 anos, e prevalência de 5,5% em pessoas com mais de 65 anos. Quando os critérios de 1990 foram usados para pesquisas clínicas, as mulheres foram mais frequentemente diagnosticadas, com uma proporção entre mulheres e homens que variou de 8:1 a 30:1. No entanto, com critérios que não usam os pontos dolorosos, a proporção entre os gêneros varia de 4:1 a 1:1. Além disso, em estudos populacionais gerais, parece que a prevalência da fibromialgia aumenta com a idade, sendo maior na faixa etária de 30 a 60 anos. A prevalência da fibromialgia também foi maior em pacientes com baixo nível de escolaridade e socioeconômico, e que moram em zonas rurais.

Uma recente revisão encontrou uma taxa de prevalência da fibromialgia que variou de 0,2% na Venezuela a 6,4% nos Estados Unidos, indicando que a prevalência da fibromialgia pode não ser tão baixa quanto a maioria dos estudos leva a crer. No entanto, é importante salientar que um estudo realizado também nos Estados Unidos observou que entre os pacientes com diagnóstico clínico de fibromialgia, 73,5% não atenderam aos critérios diagnósticos de 2010. Assim, o National Health Interview Survey estima que dos 3,9 milhões de americanos diagnosticados com fibromialgia, 2 milhões têm diagnósticos falsos positivos, e conclui que os clínicos não usam os critérios diagnósticos da forma indicada.

Prognóstico

Quanto ao prognóstico, a fibromialgia é uma disfunção não progressiva e não degenerativa. Dessa forma, seu curso clínico é variável, com diferenças intra e interpessoais, e a forma como o paciente gerencia sua dor influencia diretamente o curso clínico. Os sintomas aumentam e diminuem ao longo do tempo, mas raramente desaparecem. Muitos pacientes sofrem um impacto significativo na qualidade de vida e incapacidade devido a fibromialgia. Alguns fatores estão relacionados ao risco aumentado para a fibromialgia, são eles: influência genética, obesidade e inatividade física, baixo nível socioeconômico, estresse psicológico e físico e distúrbios do sono. Além desses fatores, o abuso físico e sexual na infância e adolescência e a presença de doenças somáticas frequentemente precedem o desenvolvimento dos sintomas da fibromialgia.

Alguns estudos sugerem que a mortalidade pode ser aumentada em pacientes com dor crônica, mas isso não se mostrou verdadeiro para pacientes com fibromialgia, que não tiveram sua mortalidade aumentada (taxa de mortalidade padronizada: 0,90 [intervalo de confiança a 95% - IC 95%: 0,61 a 1,26]). Porém há um aumento da mortalidade por suicídio (odds ratio - OR: 3,31 [IC 95%: 2,15 a 5,11]) e por acidentes (OR: 1,45 [IC 95%: 1,02 a 2,06]) nesses pacientes.

Custo relacionado a Fibromialgia

Estudos de impacto econômico mostram que os pacientes com fibromialgia são grandes consumidores de serviços de saúde, além de gerarem custos significativos relacionados com a perda de produtividade, com um consumo que se assemelha ao de pacientes com hipertensão e diabetes. A média de custos anuais da fibromialgia é estimada em aproximadamente 9.573 dólares por paciente nos Estados Unidos, o que representa gastos de 3 a 5 vezes maiores do que a população em geral. No Canadá, os custos com a fibromialgia são de aproximadamente 4.642 dólares por ano. O Japão gasta aproximadamente 25.107 dólares de custos indiretos e 17.256 dólares de custos diretos por ano com pacientes com fibromialgia. Esse custo em pacientes europeus varia de 9.397 a 15.270 dólares por ano. No entanto, a maioria dos dados relacionados aos custos da fibromialgia são de países desenvolvidos, faltando informações em relação aos custos de países em desenvolvimento, como o Brasil.

Pacientes com fibromialgia usam regularmente serviços médicos, realizando uma média de 10 consultas médicas, 1 exame radiográfico e 2,5 exames laboratoriais por ano. As hospitalizações ocorrem aproximadamente a cada três anos, sendo a dor e os sintomas musculoesqueléticos e neurológicos os problemas mais frequentes. Embora os gastos em saúde sejam exorbitantes nesses pacientes, o custo do tratamento farmacológico representa apenas 8% do custo total, pois mais de 75% dos custos gerados pela fibromialgia são atribuídos a custos indiretos pela perda de produtividade, visto que grande parte dos pacientes afetados está em idade produtiva. Foi observado também que a gravidade dos sintomas está relacionada ao aumento dos custos. Dessa forma, um aumento mínimo na pontuação do Questionário de Impacto da Fibromialgia (de 78,9 pontos para 81,5 pontos, passando de um decil para o próximo – a pontuação máxima é de 100) aumenta os custos totais em aproximadamente 865 euros por ano. Isso também pode ser mostrado para a intensidade da dor, onde o aumento de um ponto na pontuação do Inventário Breve da Dor (escala Likert de 11 pontos) aumenta os custos totais em 1.453 euros por ano.

PROFª. KATHERINNE FERRO MOURA FRANCO

Doutora em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo; Mestre em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo; Especialista em Fisioterapia Musculoesquelética pela Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.