PROFª. KATHERINNE FERRO MOURA FRANCO|28 de Novembro de 2021
Chegamos na parte final dessa série aqui em nosso blog. Hoje, estamos com o conteúdo totalmente voltado para o tratamento da fibromialgia, a Profa. Katherinne Ferro nos trouxe uma excelente explanação sobre quais são as possibilidades de tratamento com bases científicas muito recentes e talvez o ponto mais importante o que não pode ser feito ou pela sua baixa efetividade ou até mesmo pela falta da evidência. Fiquem ligados nessas dicas de como tratar melhor nosso pacientes com fibromialgia!
Tratamento da Fibromialgia
À medida que os mecanismos fisiopatológicos da fibromialgia são mais estudados e melhor compreendidos, os tratamentos da fibromialgia também tendem a mudar de abordagens mais empíricas para abordagens mais racionais e baseadas em evidência. Os maiores desafios no tratamento da fibromialgia se devem à heterogeneidade da apresentação clínica e à multiplicidade de sintomas centrais, o que faz da fibromialgia um exemplo típico de como o tratamento deve ser individualizado pelas características clínicas apresentadas pelos pacientes. Assim, nenhum tratamento único consegue ser eficaz para todos os pacientes. O tratamento da fibromialgia deve ser multimodal, englobando tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, selecionados e adaptados aos pacientes. O tratamento deve ter como principais objetivos melhorar a qualidade de vida, a capacidade funcional nas atividades de vida diária e reduzir os sintomas. Também deve ter objetivos individuais e realistas, pois alguns pacientes podem ter expectativas irreais, como o alívio completo dos sintomas. Portanto, devem ser estabelecidas metas de resultados realistas em conjunto com o paciente, como melhora da capacidade funcional diária ou redução de 30% na intensidade da dor (que corresponde a uma melhora clinicamente relevante), por exemplo.
Tratamento farmacológico
O tratamento medicamentoso deve equilibrar a eficácia e os efeitos adversos, especialmente os que afetam a cognição e aumentam a fadiga. Segundo a opinião de especialistas em fibromialgia, os remédios devem ser prescritos na menor dose efetiva, que provavelmente é menor do que as doses relatadas nos ensaios clínicos. O ideal é que sejam prescritos por um tempo limitado, o que mostra uma necessidade de avaliação periódica para garantir a necessidade de continuação.
Medicamentos não recomendados
As diretrizes de prática clínica não recomendam fortemente o uso de opióides fortes, oxibato de sódio, corticosteroides ou hormônio de crescimento para o tratamento da fibromialgia, com base na falta de evidência de eficácia e alto risco de efeitos colaterais ou dependência relatados em estudos individuais.Também não recomendam anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), inibidores de monoaminooxidase e inibidores seletivos da recaptação da serotonina como a fluoxetina, devido à falta de eficácia.
Medicamentos recomendados
As diretrizes recomendam o uso de inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (como a duloxetina e o milnacipran), antidepressivos tricíclicos (como a amitriptilina), agentes antiepilépticos (como a pregabalina e a gabapentina), o tramadol e a ciclobenzaprina. No entanto, a proporção de pacientes que alcança um alívio da dor substancial (pelo menos 50% de redução na intensidade da dor) é pequena, com números necessários para tratar com um resultado benéfico adicional geralmente entre quatro e 10. Pacientes com fibromialgia geralmente usam em média duas classes de medicamentos combinados, sendo que para alguns pacientes, são prescritos até cinco ou mais classes de medicamentos. Porém, a evidência é limitada para a combinação de drogas com diferentes modos de ação para esses pacientes.
Os medicamentos duloxetina, pregabalina e tramadol podem ser considerados para pacientes com dor severa, enquanto os medicamentos amitriptilina, ciclobenzaprina e pregabalina podem ser considerados para pacientes que apresentam distúrbios do sono. Os principais efeitos adversos relatados pelos pacientes ao usar amitriptilina, gabapentina, pregabalina e tramadol são sedação, tontura, boca seca, ganho de peso e edema.
Tratamento não farmacológico
As principais diretrizes de prática clínica recomendam o uso de terapias não farmacológicas para o tratamento de pacientes com fibromialgia, e enfatizam que estratégias não farmacológicas que promovam participação ativa do paciente, auto eficácia, atividade física e bons comportamentos relacionados à saúde devem ser recomendadas para todos os pacientes com fibromialgia.
Terapias não farmacológicas não recomendadas
Diretrizes de prática clínica não recomendam laser, estimulação elétrica transcraniana, estimulação elétrica transcutânea, biofeedback, capsaicina, quiropraxia, homeopatia, terapia de campo magnético, terapia por hipnose, massagem, atenção plena (mindfulness), reiki, imagem guiada, treinamento de relaxamento como terapia única e suplementos nutricionais (como preparação de algas e ácido málico/magnésio, anticioninas, carnitina, S-adenosilmetionina, óleo de soja, preparação de minerais vitamínico-dietéticos), com base na falta de evidência de eficácia, pobre qualidade metodológica dos artigos e pelos efeitos colaterais de algumas terapias. Os efeitos colaterais mais relatados foram dor de cabeça na terapia elétrica transcraniana e terapia por biofeedback, problemas de fadiga e sono na terapia por biofeedback, ardor e sensação de picadas moderadas com capsaicina, 50% dos pacientes experimentam efeitos adversos transitórios leves a moderados após a manipulação da coluna vertebral com quiropraxia, e dor de estômago e tontura com S-adenosilmetionina.
Terapias não-farmacológicas recomendadas
As terapias recomendadas pelas diretrizes de prática clínica são terapia cognitivo comportamental, acupuntura, hidroterapia e terapia de spa, movimentos meditativos (ioga, tai chi, qigong ou terapia de consciência corporal), exercício físico especialmente exercício aeróbico e de fortalecimento muscular, e terapias com multicomponentes que incorporam pelo menos uma terapia educacional ou psicológica e uma terapia por exercício. Porém, a única terapia não-farmacológica com forte recomendação é o exercício aeróbico e de fortalecimento muscular, pois as outras terapias ainda possuem poucos estudos, com baixa qualidade metodológica. A escolha da atividade física deve ser orientada pela preferência do paciente para manter a adesão.
PROFª. KATHERINNE FERRO MOURA FRANCO
Doutora em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo; Mestre em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo; Especialista em Fisioterapia Musculoesquelética pela Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.