Ligamento Cruzado Anterior

PROFº YURI RAFAEL DOS SANTOS FRANCO|30 de Janeiro de 2022

Introdução

Quem está a frente de algum serviço de fisioterapia especializado em reabilitação musculoesquelética muitas vezes vai torcer para chegar a aquela reconstrução fresquinha do Ligamento Cruzado Anterior. Sim, isso realmente acontece. Essa reação se dá, na maioria das vezes, pelo perfil dos pacientes que chegam com esse caso. Porém, precisamos entender alguns pontos que parecem ser bobos ao primeiro contato, porém faz toda a diferença no controle e evolução desse paciente. Nessa série de texto vamos trazer diversas situações voltadas para o LCA, partindo da anatomia e biomecânica envolvida nesse ligamento, passando pela lesão e seus principais aspectos até chegar aos pontos de alta.

O Ligamento Cruzado Anterior (LCA)

Comum a todos os ligamentos sua composição deriva do tecido conjuntivo denso, e de forma bem simplificada é um elo entre o fêmur e a tíbia. Porém, ele é muito mais que somente essa ponte, ele tem aspectos importantes que vão desde a suas inserções até sua composição mais detalhada.

Com isso, é importante falar que o LCA tem sua inserção proximal no canto posteromedial da face medial do côndilo femoral lateral na incisura intercondilar e se insere distalmente mais anterior à eminência intercondilar da tíbia. Essa última inserção tem um ponto interessante que é a sua ligação com o menisco medial, o que pode gerar um estresse maior nessa estrutura quando acontece alguns casos de torção, mas isso são cenas para os próximos capítulos.

Uma característica importante desse ligamento é que ele tem duas bandas, ou seja, ele é composto por dois feixes distintos biomecanicamente, que são a banda anteromedial (que é o menor feixe) e a banda posterolateral (maior feixe), que recebem essa denominação de acordo com a inserção na tíbia. Pelo seu trajeto anterior, medial e mais distal favorece ao movimento em espiral desse ligamento em torno de si mesmo para lateral.

Com essas informações, conseguimos aprofundar um pouco mais nesse contexto que é a função de cada uma das bandas. A banda anteromedial tem sua função mais voltada para características de limitar a anteriorização da tíbia e está mais tensa nos momentos em que o joelho está em maior extensão, com o aumento da flexão essa banda vai ficando mais frouxa e dando ação maior para o feixe posteromedial que tem maior tensão nos maiores graus de flexão e com características de restringir mais os movimentos de rotação.

As funções do LCA

1. Contenção primária do deslocamento anterior da tíbia em relação ao fêmur

Essa primeira função é aquela que aprendemos nos primeiros momentos da aulas de anatomia e, realmente, é isso que acontece e a principal função desse ligamento que tem um complexidade tão grande que precisa de inúmeros tópicos sobre ele.

2. Estabilidade secundária a estresse em rotação e em valgo

Uma ação secundária por estar dentro de um complexo articular que demanda muita ação das duas estruturas. O papel rotacional e de valgo são condições que precisam de muita atenção em todo o contexto de reabilitação desde os mecanismos de lesão chegando até a fase final da reabilitação. Esse ponto cabe um tópico específico somente para ele, pois muito se achou que o grande vilão da situação estava no quadril desencadeando todo o processo. Mas isso hoje já é visto que não é verdade absoluta.

3. Função proprioceptiva

Essa última função é de grande valia ser abordado, pois para que possamos ter um bom controle sensório-motor precisamos ter todas as estruturas preservadas. E sabemos que o LCA é um importante local de mecanoceptores da articulação do joelho.

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Referências

Ellison AE, Berg EE. Embryology, anatomy, and function of the anterior cruciate ligament. The Orthopedic clinics of North America. 1985 Jan 1;16(1):3-14.

Petersen W, Tillmann B. Anatomy and function of the anterior cruciate ligament. Der Orthopade. 2002 Aug 1;31(8):710-8.

Girgis, F. G., Marshall, J. L., Monajem, A. The cruciate ligaments of the knee joint. Anatomical, functional and experimental analysis. Clin Orthop Relat Res(106),1975 216-231.

Matsumoto, H., Suda, Y., Otani, T., Niki, Y., Seedhom, B. B., Fujikawa, K. (2001). Roles of the anterior cruciate ligament and the medial collateral ligament in preventing valgus instability. J Orthop Sci, 6(1), 28-32.

Mark L. Purnell, Andrew I. Larson, and William Clancy. Anterior Cruciate Ligament Insertions on the Tibia and Femur and Their Relationships to Critical Bony Landmarks Using High-Resolution Volume-Rendering Computed Tomography. Am J Sports Med November 2008 vol. 36 no. 11 2083-2090

Tena-Arregui J, Barrio-Asensio C, Viejo-Tirado F, Puerta-Fonollá J, Murillo-González J. Arthroscopic study of the knee joint in fetuses. Arthroscopy: The Journal of Arthroscopic & Related Surgery. 2003 Oct 1;19(8):862-8.

PROFº YURI RAFAEL DOS SANTOS FRANCO

Fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia Musculoesquelética pela Santa Casa de São Paulo, mestre e doutor em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo.