Prazer, falácia da conjunção!

PROFº YURI FRANCO|16 de Abril de 2021

Começar hoje com um exemplo bem direto... quem nunca se viu em crise quando ouviu a seguinte afirmação: exercícios globais tem efeito similar a técnica X e técnica Y para dor lombar! Mesmo sabendo que todas essas técnicas são exercícios e estão englobados no grupo exercícios globais. É disso que vamos falar hoje, Efeito da Conjunção. Mais um efeito cognitivo que está presente durante nosso cotidiano social, inclusive na prática clínica. Nada mais é do que uma questão de probabilidade em que a conjunção de dois eventos é julgada como sendo a mais provável de acontecer do que seus eventos constituintes sozinhos.

Essa teoria foi descrita inicialmente em 1983 por Tversky e Kahneman, que fizeram um experimento com seus alunos, chamado “O problema da Linda”. Nesse experimento foi contado uma história da vida da Linda e ao final pergunta o que é mais provável de estar acontecendo com Linda naquele momento. Havia duas sugestões e a maioria dos alunos foram na alternativa que continha uma conjunção, mesmo a outra resposta ser um grupo que abrangia a resposta selecionada. Vamos ao exemplo do experimento para ficar claro:

“Linda tem 31 anos, é solteira, falante e muito inteligente. Ela se formou em filosofia. Quando estudante, ela se preocupou profundamente com questões de discriminação e justiça social, e também participou de manifestações antinucleares.”

O que é mais provável atualmente:

a) Linda é caixa de banco

b) Linda é caixa de banco e ativa no movimento feminista

Analisando o caso acima, observamos que existe uma descrição totalmente tendenciosa, o que deixam os participantes confusos quanto a resposta, pois existe um fator relacionado a representatividade. Porém, Linda é muito mais do que somente o que foi exposto. Será que devemos falar que o efeito da conjunção é uma falácia ou é apenas um erro/tendência durante a exposição do caso?

E esse tipo de condição é empregado no contexto clínico? Infelizmente sim! E falo infelizmente, pois quando se fala em ambiente clínico deveríamos partir sempre do ponto que a incerteza é a regra máxima do jogo e essa incerteza precisa ser colocada de maneira objetiva, ou seja, todos devem estar igualmente desinformados, é o que falamos sobre a hipótese nula. Porém, sabemos que existem inúmeros fatores que fazem com que essa realidade não seja vista, o ambiente social, cultural e até mesmo de experiências prévias, o viés de confirmação. Por isso, que o efeito da conjunção pode não ser tão real nesse meio, onde você é livre para fazer suas especulações.

E aí, novamente, voltamos ao assunto que é a necessidade de embasamento dos clínicos em métodos de pesquisa. Isso é indispensável para que o contexto ambiental e cultural não seja fator de confusão na tomada de decisão. Com isso, fica aquele profissional com mil técnicas nas mãos, achando que quanto mais eu associo mais efeito terei. Porém, sabemos que o básico bem feito tem seu valor e muitas vezes melhor do que as novidades associativas.

Então, vamos trazer mais objetividade ao nosso contexto clínico. Lembrem, hoje o fisioterapeuta precisa ser científico e isso não significa que seja o cara do laboratório, mas é aquele cara que tem em suas tomadas de decisão os critérios objetivos pautados na ciência e não no que apenas acredito que tem várias influências externas.

Deixo aqui uma indicação de leitura sobre o tema: Why the conjunction effect is rarely a fallacy: how learning influences unvertainty and the conjunction rule (doi:10.3389/fpsyg.2018.01011)