PROFº YURI RAFAEL DOS SANTOS FRANCO|06 de Novembro de 2021
TENDINOPATIA DE AQUILES
Um foco direcionado ao protocolo de exercícios excêntricos
A TENDINOPATIA DE AQUILES
A tendinopatia de Aquiles é considerada uma das condições degenerativas mais frequentes do membro inferior, e foi definida recentemente como uma síndrome que envolve dor, edema e perda funcional progressiva. É especulado que seu aparecimento seja devido a tensionamentos constantes e excessivos que podem influenciar no aparecimento e no agravamento do quadro dos pacientes portadores dessa condição. Atualmente, existe uma hipótese de que, nos casos sintomáticos, a dor é advinda dos tecidos adjacentes e não do tendão propriamente dito.
Existem diversos fatores que podem estar associados ao aparecimento da tendinopatia do tendão calcâneo, sendo eles intrínsecos (idade, gênero, baixa capacidade de regular a temperatura no tecido e doenças sistêmicas) e extrínsecos (uso de medicamentos, excesso de treinamento, terreno da prática da atividade física e equipamentos), podendo estar associados ou não. Essa tendinopatia é mais prevalente em homens com idade entre 30 e 55 anos.
INSERCIONAL vs. NÃO-INSERCIONAL
Uma característica que a difere das demais tendinopatias é que a tendinopatia de aquiles é dividida funcionalmente em duas porções: a insercional e a não-insercional. As tendinopatias não-insercionais são as mais prevalentes, cerca de 66% dos casos, e são caracterizadas pelo aparecimento da dor entre 2 a 6 cm acima da inserção no calcâneo, em pacientes mais velhos e com sobrepeso. A principal característica dessa condição é a dor, principalmente após períodos de repouso. O diagnóstico é clínico, e os pacientes apresentam dor e edema na porção póstero-medial do tendão, respondendo a estímulos dolorosos durante a palpação local.
Já as tendinopatias insercionais correspondem a cerca de 25% dos casos de doença do tendão na região e os 10% restantes correspondem a condições associadas, como inflamação do coxim adiposo e da bursa presente na região. As evidências são escassas sobre as tendinopatias insercionais, porém sabe-se que pacientes que referem dor insercional têm deformidades ósseas no calcâneo e calcificações no corpo do tendão.
TRATAMENTO
Em relação ao tratamento da tendinopatia do tendão calcâneo, a literatura mostra forte evidência para terapia com exercícios terapêuticos, especificamente com exercícios excêntricos através do protocolo de Alfredson.
Talvez o protocolo mais comum de ser visualizado no meio clínico. Aquele que corresponde a três séries de 15 repetições, duas vezes ao dia, sete dias na semana por 12 semanas e com incremento de 5 kg a cada semana de protocolo. Existem uma história por trás desse protocolo que queria muito saber do Dr Hakan Alfredson, se ela realmente existiu. Pois, falam que esse protocolo surgiu depois do Alfredson ter alguns problemas de tendinopatia de aquilles e começou a experimentar o estresse no tendão para que ele rompesse e só assim fosse operado e parece que os sintomas começaram a melhorar e ele retomou as suas atividades.
PROTOCOLO DE ALFREDSON
O tratamento através desse protocolo se mostra bastante eficaz para pacientes com tendinopatia não-insercional, com resultado favorável em 80 a 100% dos casos. Isso não é visto em pacientes com a tendinopatia insercional, já que apenas 25 a 32% dos pacientes melhoram completamente. A limitação da amplitude da dorsiflexão do tornozelo foi uma alternativa testada com bom resultado, pois esse movimento gera ainda mais estresse mecânico no local, como o estresse bioquímico devido a diminuição da vascularização local que já se encontra deficitária nessa população.
Além disso, esse protocolo foi extrapolado para tratar a tendinopatia patelar, com o incremento de um plano inclinado, seguindo todas as outras características. Porém, a verdade que os exercícios excêntricos é uma boa terapêutico começou a ser veiculada e atualmente uma boa parte das tendinopatias são tratadas com exercícios excêntricos, mesmo que as evidências ainda sejam controversas.
Vale, ainda, uma ressalva no que se diz a respeito de alguns achados durante a aplicação desse protocolo e uma delas é a presença de dor. Isso mesmo, ao iniciar o processo de tratamento com o protocolo de Alfredson o paciente experimenta uma agudização do quadro de dor e esse achado gera, em sua grade maioria, a desistência do tratamento.
Fazendo agora o lado negro da força, se pararmos para pensar nesse protocolo de forma a manipular cargas, o incremento de carga de 5kg de maneira consistente e para todos os pacientes gera um problema importante, pois para uns essa alteração pode ser algo impossível de se realizar como para outros, não vai mudar nada no sistema metabólico. E isso no que se trata de treinamento e periodização não é nada agradável. Então, alguns estudos vêm aparecendo justamente para tentar alterar essas verdades do protocolo de Alfredson. Esses estudos já trazem uma luz nesses quesitos mostrando que os efeitos são similares ao realizar as séries fechadas com 15 repetições ou realizar até o paciente começar a sentir dor e, também, nas evoluções das cargas de maneira mais tolerada do que somente incrementar 5 kg a cada semana.
PROFº YURI RAFAEL DOS SANTOS FRANCO
Fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia Musculoesquelética pela Santa Casa de São Paulo, mestre e doutor em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo.